sábado, 8 de dezembro de 2007

A vulnerabilidade das economias emergentes frente a momentos de instabilidade internacional

O setor imobilíario norte americano recentemente deixou transparecer temoridades sobre um aumento na taxa de inadimplência no setor, principalmente no que se refere ao mercado de hipotecas, levando a uma possível retração na oferta de crédito, pois que, há algumas semanas, foi detectada um alto grau de inadimplência do segmento que engloba pessoas com antecedentes de "mal pagamento" e que, por conseqüência, podem oferecer menos garantia em honrar seus compromissos - é o chamado crédito "subprime" (de segunda linha).
Como esse tipo de título tem altos riscos, consequentemente é o tipo de título que oferece juros mais elevados, e por isso são preferidos pelos gestores de fundos e bancos em busca de retornos melhores. Estes gestores, assim, ao comprar tais títulos das instituições que fizeram o primeiro empréstimo, permitem que um novo montante de dinheiro seja novamente emprestado, antes mesmo do primeiro empréstimo ser pago.Tendo em vista obter lucratividade, um segundo gestor pode comprar o título adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerando uma cadeia de venda de títulos.Entretanto, se a ponta (o tomador) não consegue honrar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos títulos,que tem como resultado todo o mercado com medo de emprestar e comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez (retração de crédito).O mercado financeiro do mundo todo já monitorava problemas em relação com esses tipos de créditos imobiliários. Quando a inadimplência dessas operações superou as expectativas, empresa após empresa nos EUA relataram problemas de caixa.No setor de investimentos, então, cresceu uma temoridade em relação ao tamanho do prejuízo. Principalmente porque ninguém sabe, até hoje, quanto os bancos e fundos de investimento têm aplicados nesses créditos de alto risco.Esse desconhecimento em nível mundial venho a provocar o que se chama de crise de liquidez (retração do crédito) no sistema financeiro. Neste mundo de incertezas, o dinheiro pára de circular pois quem possui recursos sobrando não empresta, quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Com isso os investidores internacionais, temendo perda de rentabilidade, aumento de riscos e subsequente queda no valor das ações, retiraram seus investimentos dos países emergentes.
Com isso os investidores internacionais ficaram temerosos em relação a investimentos de riscos, como as bolsas, levando-os a vender os seus papéis de países como o Brasil.Com alto grau de oferta e baixa taxa de procura os papéis tendem a se desvalorizar, levando esse "clima de recessão" a todo o mundo, e mostrando a vulnerabilidade das economias emergentes em crises globais.


Boa semana a todos,


Vinicius

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O impacto das reformas de Camarada Chaves

O camarada Hugo Chaves, sofreu um grande golpe em sua jornada rumo ao que chama, com termo que cunhou como o "Socialismo do século 21", ao ser derrotado no plebiscito sobre a reforma constitucional, que previa, entre outros, a possibilidade de reeleição por indeterminados pleitos.No plebiscito sobre a reforma constitucional, o presidente venezuelano amargou 44% de abstenção ¹.A Venezuela é um país que, ao contrário de seus vizinhos sul-americanos e graças as suas reservas naturais, tem sua economia baseada na atividade petroleira (um terço do PIB e 80% das exportações) ², tendo o setor econômico não petrolífero relativamente fraco.Este desponta com uma inflação próxima a casa dos 30% ³. Chaves governa como um déspota, se utilizando de seu poder ao seu modo, mergulhando a Venezuela em uma névoa de desconfiança e incerteza política. A derrota da propósta de reforma constitucional mostra uma oposição de certo modo organizado, com maciça participação da classe estudantil, o que, de certo modo, leva por terra abaixo a idéia de massivo apoio popular a causa de Chaves. A pergunta é "Até quando a Venezuela (e a América do Sul) suportara Chaves?"


Boa semana a todos


Vinicius


1-http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL202831-5602,00-CHAVEZ+NAO+PODE+MAIS+DIVIDIR+A+VENEZUELA+DIZ+OPOSICAO.html
²- http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?c=ve&v=65&l=pt
³- https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A União Soviética e seus méritos na educação


A revolução russa, que neste ano completa 90 anos, teve como uma característica marcante o incentivo afim de auxiliar a escolarização da população.E é neste aspecto da revolução russa que este artigo irá se deter.
No ano de 1917, na Rússia do czar Nicolau II, a população apresentava um índice aproximado de 70% de analfabetismo.Nesse contexto a educação formal estava restrita aos pequenos grupos da aristocracia monarquica.
Com a revolução, o povo passou a ser detentor do poder político,tão logo necessitava de instrução formal.
Uma das maiores conquistas da Rússia revolucionária foi a incrível redução, alcançada em poucos anos, do número de analfabetos no país. A partir das vitórias de Lênin e do partido bolchevique nos idos de 1917, inúmeras campanhas foram desenvolvidas em diversas frentes - com maior destaque para as áreas rurais - para ensinar os povos soviéticos a ler e escrever. Até então, milhões de pessoas vegetavam na ignorância e no atraso, sendo privadas dos conhecimentos mais básicos e elementares acumulados até o momento pela humanidade.
As tiragens publicadas na então União Soviética era extremamente impressionante, visto que antes da revolução de Outubro o índice de analfabetos chegava ao incrivel nivel de 66% nas cidades e 89,2% no campo.Em 1932, 15 anos após a tomada do poder pelos bolcheviques o índice de analfabetismo chegou a um patamar inferior a 10%, conforme a publicação inglesa Statesman Year Book de 1933.
O então jovem Caio Prado Junior, no ano de 1934, escreve o livro URSS, um novo mundo afim de relatar a sua viagem pela Rússia onde conheceu as realizações soviéticas nos diversos campos das atividades humanas.Este se supreendeu com o grande número de estabelecimentos de leitura em lugares incomuns para os países capitalistas, como portas de fábricas e cooperativas agrícolas.
"Não pretendo alinhar números, que podem ser facilmente obtidos por quem se interessar particularmente pelo assunto. E mesmo não preciso deles para afirmar que a União Soviética é hoje um país altamente alfabetizado. Não há fábrica, usina, fazenda, sindicato, clube ou qualquer outra organização que não conte com sua biblioteca e não disponha de uma pequena livraria própria. Estas estão colocadas na entrada das fábricas e, como assisti inúmeras vezes, à saída do trabalho, pude observar que sempre grande parte dos operários parava diante delas e adquiria algumas obras. No campo, o mesmo espetáculo. Sovkhozes1 e Kolkhozes2 possuem jornais próprios, que se vêem em todas as mãos. Durante o trabalho dos campos, nas horas de repouso, chegam caminhões com pilhas de jornais, e a distribuição é feita entre os trabalhadores. Acrescenta-se a isto, a tiragem espantosa dos grandes diários soviéticos (superior a um milhão de exemplares para alguns deles) e ver-se-á que não exagero quando afirmo que aqui se lê de fato. Este interesse tão generalizado pela leitura, que é patente e não traz o cunho das estatísticas oficiais, que para muitos poderiam ser suspeitas, só se explica num país de população alfabetizada. (...)."1
Em pleno transcorrer da segunda guerra mundial, o então poderoso Exército Vermelho - enquanto enfrentava corajosamente as forças nazi-fascistas - não descuidava da educação e cultura dos seus oficiais e praças.
Nas fileiras do exército soviético o ensino não era só incentivado como de caracter obrigatório, de forma intensa, sistemática e organizada durante os anos de serviço, com o objetivo de instruir a tropa sobre a finalidade do combate.
A escritora e jornalista norte-americana Anna Louise Strong, que viveu durante 20 anos na então União Soviética, é autora de vários livros sobre a vida, as lutas e os hábitos dos soviéticos.Em uma de suas obras, entitulada A Rússia na guerra e na paz, são retratados acontecimentos vivos da Segunda Guerra Mundial, vistos a partir da frente germano-soviética deste conflito. Vejamos o que ela diz: "Cada destacamento do exército possui sua biblioteca própria. Essas bibliotecas, que são encontradas em todos os recantos da URSS, compreendem um total de 25 milhões de livros. O movimento total das mesmas é de 2 milhões de volumes."2
Grandes tiragens não foram apenas alcançadas, como sustentam alguns, por obras básicas da doutrina socialita, como Marx, Engels, Lênin e Stálin,muito embora estas ocupavam lugar de destaque nas listas editoriais.A produção editorial soviética teve espaço para obras de todo o mundo, inclusive do Brasil, em tiragens impensáveis pelas editoras capitalistas.A passagem que segue, de autoria do romancista brasileiro Jorge Amado, se refere a antiga Biblioteca Lênin, hoje Biblioteca Nacional Russa:
"Para se ter uma idéia de como toda a cultura do mundo é colocada à disposição do povo russo, através de edições grandes e baratas, citarei algumas cifras relativas a escritores mais conhecidos. Cerca de 3 milhões de exemplares de livros de Charles Dickens foram publicados na União Soviética, após 1917. De Victor Hugo, mais de 4 milhões, também de Maupassant.
De Shakespeare, mais de 2 milhões. De Wells, mais de 3 milhões e meio. De Jack London (popularíssimo na URSS), mais de 11 milhões. De Heine, cerca de 1 milhão e meio, de Goethe, quase 1 milhão. De Balzac e de Romain Rolland, mais de 2 milhões de cada e de Zola, mais de 2 milhões e meio. Dos escritores contemporâneos têm sido publicadas às dezenas, e por vezes, às centenas de milhares, livros de Julius Fuchik, de Thomas e Henrich Mann, de Anna Seghers, de Andersen-Nexo, de Upton Sinclair, de Pirandello, de Stoianov, de Bernard Shaw, de Aragon, de Priestley, de Garcia Lorca, de Sinclair Lewis, de Jorge Amado, de Rafael Alberti, de Pablo Neruda, de Howard Fast, entre outros."
Além desta, que era a maior biblioteca da URSS, haviam milhares de outras: "(...) Porém, não é tudo, porque é necessário ver ainda outra coisa: que essa biblioteca Lênin, com seus 13 milhões de volumes e 5 mil leitores diários, se é a maior e a mais frequentada, não é a única de Moscou. Em Moscou existem dezenas, centenas de bibliotecas, gerais ou especializadas, abertas diariamente ao público. Biblioteca da Universidade, ela também importante, bibliotecas especializadas das diversas faculdades, bibliotecas de bairro, bibliotecas dos parques de cultura, bibliotecas dos clubes de cultura, bibliotecas das organizações de mulheres, de jovens, de crianças, das organizações do Partido e dos Sindicatos, de escolas e de fábricas, além da estante maior ou menor de livros que fatalmente se encontra em cada residência."
3
Outro grandioso escritor tupiniquim, Graciliano Ramos, também venho a visitar a então União Soviética, em 1952. De suas anotações de viagem venho a ser publicada uma obra póstuma chamada Viagem - Tcheco-Eslováquia e URSS. Sóbrios, seus apontamentos não se perdem em ufanismos. Nos capítulos finais estão presentes apenas pequenas notas, sem redação, sobre o Palácio de Cultura dos Operários, em Leningrado. "Biblioteca: 145 mil volumes; 10.500 leitores inscritos para empréstimos. Biblioteca infantil: 32 mil volumes; 4.500 leitores inscritos. Operários que lêem, por ano, 120, 150, às vezes 200 volumes. Média: 40 volumes por ano."
Tendo o exposto pode-se perceber quão grandioso foi o "milagre" de cunho educacional evidenciado na então União Soviética, levando o país mais agrário da Europa ao patamar de grande potência.

Uma boa semana a todos

Vinicius
1-Junior,Caio Prado- URSS, um mundo novo- Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1935
2-Zacharoff, Lucien - Nos Hemos Equivocado- citado por Anna Louise Strong em A Rússia na paz e na guerra, Editorial Calvino Limitada, 1945
3-Amado, Jorge- O mundo da paz: União Soviética e democracias populares, Editorial Vitória, 1953
4-Ramos, Graciliano - Viagem (Tcheco-eslováquia e URSS), Livraria Martins Editora S. A., São Paulo, 1970

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Brasil, potência agrícola

Segundo reportagem publicada no site BBC Brasil:"O trabalho da Embrapa, a agência brasileira de pesquisas agrícolas, ajudou a transformar o Brasil no que o ex-secretário de Estado americano Colin Powell classificou como 'superpotência agrícola', destinado a ultrapassar os Estados Unidos como líder na exportação mundial de alimentos, segundo afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal The New York Times." ¹ É fato corrente que o Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Grandes extensões de terras cultiváveis, clima com razoável média pluviométrica em boa parte do território auxiliam o país. Graças a investimentos do governo e de empresas privadas feitos ao longo de muitos anos, o país também destaca-se atualmente em biotecnologia agrária, da qual o grande expoente é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária²). Como dito na reportagem do The New York Times, o Brasil está "destinado" a ultrapassar os EUA como maior exportador agrícola mundial. Existem porém, entre a conjuntura atual e tal realização alguns sérios empecilhos que devem ser superados. Em primeiro lugar é clara a necessidade, histórica necessidade, de uma consistente reforma agrária no país. Reforma essa que serviria tanto para melhor estruturar a configuração fundiária do país, infestada por latifúndios improdutivos e potencializar a produção com pequenas e médias propriedades produtivas, quanto para, consequentemente, reduzir os conflitos rurais, pelos quais o Pará já é chamado de "faroeste brasileiro" e desmobilizar grupos como o MST que acabam por atrapalhar em muitos casos a pesquisa agrícola no país, além de realizarem atos criminosos em geral em outros. Além disso o cuidado com o lado ambiental é essencial. Reportagem do jornal francês "Le Monde" alertou para o perigo de "asfixia" da floresta Amazônica causado pela expansão do cultivo de soja floresta. A soja é empurrada também em virtude do aumento da área cultivada de cana-de-açúcar, usada para a produção de álcool principalmente. Isso sem mencionar a destruição de outros ecossistemas como o cerrado e o assoreamento de rios gerado pelo mau uso dos recursos hídricos, o que resulta muitas vezes em desertificação como a que ocorre em certas áreas do Rio Grande do Sul. Problemas que clamam por uma maior fiscalização do governo sobre os produtores rurais. Que o Brasil é uma grande potência agrícola e ainda o pode ser mais todos sabemos. O caminho a ser percorrido entretando é tortuoso e cheio de pedras. Que o governo e a iniciativa privada auxiliem-se para que as pedras sejam removidas e o país possa se utilizar da produção primária para alavancar o desenvolvimento dos outros setores.1- http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/10/071002_nytimesembraparw.shtml2-http://www.embrapa.br/3- http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070919_amazonialemonde_pu.shtml]http://www.lemonde.fr/cgi-bin/ACHATS/acheter.cgi?offre=ARCHIVES&type_item=ART_ARCH_30J&objet_id=1005064Muito obrigado.

Matheus

domingo, 30 de setembro de 2007

Entreguismo?

Todos nós podemos observar nos últimos meses a organização de um plesbiscito pela "reestatização" da Vale do Rio Doce, maior empresa do ramo da mineração do Brasil.Criada no governo Vargas como uma empresa de capital misto,ela é hoje uma empresa privada de capital aberto.A empresa sofreu processo de privatização em 6 de maio de 1997.O principal impasse em relação a isso, e motivador deste plebiscito, é que a Vale era uma empresa lucrativa e eficiente.Esta foi vendida por R$ 3.338.178.240,muito embora esta na época possuí-se capital e patrimônio no valor aproximado de 94 bilhões de reais.O valor que o Tesouro Nacional recebeu referente a sua venda equivale hoje ao lucro trimestral da empresa.Grande parte deste ganho de lucratividade se deve ao enorme aumento no preço do minério de ferro,que subiu 123,5% entre 2005 e 2006,tornando-a a maior exportadora do mundo em minério de ferro. As regras atuais que regem o mercado econômico mundial tornam inviaveis uma reestatização de uma empresa privada,visto a sólida posição do Brasil no cenário econômico internacional.Mas o Estado do Brasil não teria por direito a restituição desta diferença?


Uma boa semana a todos



Vinicius

Primeira de muitas

Seja você, leitor, muito bem vindo ao Il Osservatori, uma tentativa frustrada de escrever "O observatório" em Italiano. O que importa, porém não é isso. Importa que você está convidado a freqüentar (e se possível divulgar), a partir de agora, o nosso blog, meu e de meu colega Vinícius. Iremos tentar, com a maior freqüência possível trazer aqui discussões, idéias, comentários e notícias das mais diversas, tudo com bastante transparência, clareza, probidade e ética jornalística. Novamente, seja bem vindo. Obrigado

Matheus