terça-feira, 9 de outubro de 2007

A União Soviética e seus méritos na educação


A revolução russa, que neste ano completa 90 anos, teve como uma característica marcante o incentivo afim de auxiliar a escolarização da população.E é neste aspecto da revolução russa que este artigo irá se deter.
No ano de 1917, na Rússia do czar Nicolau II, a população apresentava um índice aproximado de 70% de analfabetismo.Nesse contexto a educação formal estava restrita aos pequenos grupos da aristocracia monarquica.
Com a revolução, o povo passou a ser detentor do poder político,tão logo necessitava de instrução formal.
Uma das maiores conquistas da Rússia revolucionária foi a incrível redução, alcançada em poucos anos, do número de analfabetos no país. A partir das vitórias de Lênin e do partido bolchevique nos idos de 1917, inúmeras campanhas foram desenvolvidas em diversas frentes - com maior destaque para as áreas rurais - para ensinar os povos soviéticos a ler e escrever. Até então, milhões de pessoas vegetavam na ignorância e no atraso, sendo privadas dos conhecimentos mais básicos e elementares acumulados até o momento pela humanidade.
As tiragens publicadas na então União Soviética era extremamente impressionante, visto que antes da revolução de Outubro o índice de analfabetos chegava ao incrivel nivel de 66% nas cidades e 89,2% no campo.Em 1932, 15 anos após a tomada do poder pelos bolcheviques o índice de analfabetismo chegou a um patamar inferior a 10%, conforme a publicação inglesa Statesman Year Book de 1933.
O então jovem Caio Prado Junior, no ano de 1934, escreve o livro URSS, um novo mundo afim de relatar a sua viagem pela Rússia onde conheceu as realizações soviéticas nos diversos campos das atividades humanas.Este se supreendeu com o grande número de estabelecimentos de leitura em lugares incomuns para os países capitalistas, como portas de fábricas e cooperativas agrícolas.
"Não pretendo alinhar números, que podem ser facilmente obtidos por quem se interessar particularmente pelo assunto. E mesmo não preciso deles para afirmar que a União Soviética é hoje um país altamente alfabetizado. Não há fábrica, usina, fazenda, sindicato, clube ou qualquer outra organização que não conte com sua biblioteca e não disponha de uma pequena livraria própria. Estas estão colocadas na entrada das fábricas e, como assisti inúmeras vezes, à saída do trabalho, pude observar que sempre grande parte dos operários parava diante delas e adquiria algumas obras. No campo, o mesmo espetáculo. Sovkhozes1 e Kolkhozes2 possuem jornais próprios, que se vêem em todas as mãos. Durante o trabalho dos campos, nas horas de repouso, chegam caminhões com pilhas de jornais, e a distribuição é feita entre os trabalhadores. Acrescenta-se a isto, a tiragem espantosa dos grandes diários soviéticos (superior a um milhão de exemplares para alguns deles) e ver-se-á que não exagero quando afirmo que aqui se lê de fato. Este interesse tão generalizado pela leitura, que é patente e não traz o cunho das estatísticas oficiais, que para muitos poderiam ser suspeitas, só se explica num país de população alfabetizada. (...)."1
Em pleno transcorrer da segunda guerra mundial, o então poderoso Exército Vermelho - enquanto enfrentava corajosamente as forças nazi-fascistas - não descuidava da educação e cultura dos seus oficiais e praças.
Nas fileiras do exército soviético o ensino não era só incentivado como de caracter obrigatório, de forma intensa, sistemática e organizada durante os anos de serviço, com o objetivo de instruir a tropa sobre a finalidade do combate.
A escritora e jornalista norte-americana Anna Louise Strong, que viveu durante 20 anos na então União Soviética, é autora de vários livros sobre a vida, as lutas e os hábitos dos soviéticos.Em uma de suas obras, entitulada A Rússia na guerra e na paz, são retratados acontecimentos vivos da Segunda Guerra Mundial, vistos a partir da frente germano-soviética deste conflito. Vejamos o que ela diz: "Cada destacamento do exército possui sua biblioteca própria. Essas bibliotecas, que são encontradas em todos os recantos da URSS, compreendem um total de 25 milhões de livros. O movimento total das mesmas é de 2 milhões de volumes."2
Grandes tiragens não foram apenas alcançadas, como sustentam alguns, por obras básicas da doutrina socialita, como Marx, Engels, Lênin e Stálin,muito embora estas ocupavam lugar de destaque nas listas editoriais.A produção editorial soviética teve espaço para obras de todo o mundo, inclusive do Brasil, em tiragens impensáveis pelas editoras capitalistas.A passagem que segue, de autoria do romancista brasileiro Jorge Amado, se refere a antiga Biblioteca Lênin, hoje Biblioteca Nacional Russa:
"Para se ter uma idéia de como toda a cultura do mundo é colocada à disposição do povo russo, através de edições grandes e baratas, citarei algumas cifras relativas a escritores mais conhecidos. Cerca de 3 milhões de exemplares de livros de Charles Dickens foram publicados na União Soviética, após 1917. De Victor Hugo, mais de 4 milhões, também de Maupassant.
De Shakespeare, mais de 2 milhões. De Wells, mais de 3 milhões e meio. De Jack London (popularíssimo na URSS), mais de 11 milhões. De Heine, cerca de 1 milhão e meio, de Goethe, quase 1 milhão. De Balzac e de Romain Rolland, mais de 2 milhões de cada e de Zola, mais de 2 milhões e meio. Dos escritores contemporâneos têm sido publicadas às dezenas, e por vezes, às centenas de milhares, livros de Julius Fuchik, de Thomas e Henrich Mann, de Anna Seghers, de Andersen-Nexo, de Upton Sinclair, de Pirandello, de Stoianov, de Bernard Shaw, de Aragon, de Priestley, de Garcia Lorca, de Sinclair Lewis, de Jorge Amado, de Rafael Alberti, de Pablo Neruda, de Howard Fast, entre outros."
Além desta, que era a maior biblioteca da URSS, haviam milhares de outras: "(...) Porém, não é tudo, porque é necessário ver ainda outra coisa: que essa biblioteca Lênin, com seus 13 milhões de volumes e 5 mil leitores diários, se é a maior e a mais frequentada, não é a única de Moscou. Em Moscou existem dezenas, centenas de bibliotecas, gerais ou especializadas, abertas diariamente ao público. Biblioteca da Universidade, ela também importante, bibliotecas especializadas das diversas faculdades, bibliotecas de bairro, bibliotecas dos parques de cultura, bibliotecas dos clubes de cultura, bibliotecas das organizações de mulheres, de jovens, de crianças, das organizações do Partido e dos Sindicatos, de escolas e de fábricas, além da estante maior ou menor de livros que fatalmente se encontra em cada residência."
3
Outro grandioso escritor tupiniquim, Graciliano Ramos, também venho a visitar a então União Soviética, em 1952. De suas anotações de viagem venho a ser publicada uma obra póstuma chamada Viagem - Tcheco-Eslováquia e URSS. Sóbrios, seus apontamentos não se perdem em ufanismos. Nos capítulos finais estão presentes apenas pequenas notas, sem redação, sobre o Palácio de Cultura dos Operários, em Leningrado. "Biblioteca: 145 mil volumes; 10.500 leitores inscritos para empréstimos. Biblioteca infantil: 32 mil volumes; 4.500 leitores inscritos. Operários que lêem, por ano, 120, 150, às vezes 200 volumes. Média: 40 volumes por ano."
Tendo o exposto pode-se perceber quão grandioso foi o "milagre" de cunho educacional evidenciado na então União Soviética, levando o país mais agrário da Europa ao patamar de grande potência.

Uma boa semana a todos

Vinicius
1-Junior,Caio Prado- URSS, um mundo novo- Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1935
2-Zacharoff, Lucien - Nos Hemos Equivocado- citado por Anna Louise Strong em A Rússia na paz e na guerra, Editorial Calvino Limitada, 1945
3-Amado, Jorge- O mundo da paz: União Soviética e democracias populares, Editorial Vitória, 1953
4-Ramos, Graciliano - Viagem (Tcheco-eslováquia e URSS), Livraria Martins Editora S. A., São Paulo, 1970

6 comentários:

Poeta Idealista disse...

Interessante...
Em Brasília, a maioria das paradas de ônibus*(do plano piloto é claro, desconsidera-se as cidades satélites) possuem umas "mini bibliotecas", que são estantes de livros, muitos livros, que a população local pode "alugar". E o mais legal de tudo é que nunca foram roubados, e a quantidade de gente que pega esses livros emprestados ainda é razoável. Mas isso é no Plano né, o que só demonstra mais uma vez a inevitável desigualdade social tão visível de Brasília. Claro que esse exemplo não se equipara a União Soviética, mas foi só para constar. A Educação é uma das bases de uma sociedade forte e integrada, inclusive já foi provado que melhorando as oportunidades da Educação, reduz-se 80% da criminalidade, afinal, devemos ser racionais e concluir que bastante parte dos crimes são cometidos em torno não só da essência humana(bem ou mal), mas do contexto histórico e fatores sociais... Sendo assim, no caso no Brasil, eu realmente acho que o governo perde muito Tempo com projetos Bolsa Família que só faz a população carente se acomodar. O certo seria implantar um sistema de educação vigente, por exemplo, oferecer alimentação na escola como forma de incentivo a população carente. Mas isso é outra história.
Uma coisa admirável no sistema socialista é essa preocupação com a Educação. Que o diga Cuba, que possui a melhor universidade de Medicina do planeta, e ainda sim esse diploma é negado por países Pró-EUA. Tudo bem que aquilo não é a melhor forma de governo, a ditadura, mas se o post tem por finalidade adentrar apenas no aspecto da educação...
Educação é um direito do cidadão, não?
Parece estranho então a gente ter que se matar de estudar para entrar na federal, e mesmo porque, a maioria das pessoas que estão na federal pagaram uma foturna em algum cursinho...

Anônimo disse...

O triste é saber que no Brasil a situação é bem diferente né?!
Imagine o quão grande seria o desenvolvimento do país se o governo investisse na educação, como no primeiro comentário, em vez de perder tempo com Bolsas Família, por que não investir na educação das pessoas com renda mais baixa e tentar, pelo menos, melhorar os índices de analfabetismo da população. Sem levar em conta que analfabetos não são somente as pessoas que não sabem ler e escrever, também existem os analfabetos funcionais, que sabem ler e escrever, mas não conseguem interpretar nem fazer as contas mais simples, são pessoas que entram nos índices de alfabetização mas não a representam.
A preocupação do sistema socialista é um exemplo a ser seguido. É uma realidade que não esta longe da nossa, mas no nosso país, infelizmente, insistem em "dar o peixe" invés de "ensinar a pescar".

Jana disse...

Tupiniquim não é um termo adequado para designar um escritor brasileiro, já que está se falando de grandes nomes da literatura universal, considero, portanto, erro de principiante. Mas acredito que estás bem intencionado, pois o texto relata posições de importantes pensadores sobre o assunto (Educação em URSS).
Um beijo,
Até!

Odilon disse...

hmm...realmente, interessante..muitas pessoas não conhecem a grandiosa importância dessa revolução...

Quanto aos comentários:
Jana, seu comentário não faz muito sentido...

Manecão disse...

O Brasil também tinha esta taxa em 1917 e não precisou matar a maioria deles.

Deu certo até acabarem os recursos de todos os países que ela dominou.

Prova disto é que todos os países que se libertaram do julgo soviético melhoraram, com exceção de Cuba, e todos sabem porque.

Schirmer disse...

Não se trata de outros países terem índice semelhante ou maior no período, mas sim de onde a União Soviética saiu e aonde chegou em curtíssimo tempo, de pais mais atrasado da Europa em potencia mundial em poucas décadas, e nenhum país do mundo reduziu o analfabetismo de 70% para 10% em 15 anos, e nem tornou uma população ignorante em culta em semelhante período. Deve-se sempre comparar um país com ele mesmo em uma análise histórica decente.